Blog dos alunos da turma III da Especialização em Semiótica Aplicada à Literatura e Áreas Afins da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Memória de Aula 02 por Wadlia Araújo Tavares


A segunda aula será contada mais uma vez através de minhas anotações de aula.

A aula começa com o esclarecimento da distinção entre Literatura e Literariedade. Confesso que não entendi muito bem mas tenho pesquisado sobre isso e achei um texto interessante no seguinte link: http://pt.shvoong.com/humanities/1667892-conceito-literariedade/. Ainda sigo sem conclusões acerca deste assunto mas creio que isso seja algo bom pois fomenta novas pesquisas.
Não houve tempo para anotar tudo porém algumas características do texto literário ficaram registradas como a conotação (o poder de dizer algo com outras palavras ativando assim metáforas e metonímias); a novidade ( a inovação no plano da expressão e do conteúdo) e a estruturação (esta última não ficou muito clara pra mim!)

Uma coisa dita pela professora acerca das adaptações de textos clássicos foi extremamente interessante: “Alguns textos têm a hora certa para chegar na vida do leitor”. Sempre tive isso em mente até porque comprovei isto pessoalmente. Quando li Saramago pela primeira vez, aos 18 anos, foi traumático. “A Jangada de Pedra” parecia o texto mais sem sentido que eu havia lido. Meses depois fui a uma aula de preparação para o vestibular e lá um professor explanou um estudo interpretativo da obra. Foi a luz que iluminou meu caminho literário. Daquele momento em diante passei a admirar e ler tudo sobre/de Saramago. Este ano, ao saber de sua morte, fiquei chocada e profundamente triste. Tinha esperanças de encontrá-lo e conversarmos sobre alguns de seus livros tão geniais. Perdemos muito com sua morte. Ganhamos muito com sua vida.

O ponto alto da aula com certeza foi a distinção entre narrador e autor. Há pouco mais de ano pude entender tal diferença plenamente e ver este esclarecimento posto em discussão e sendo desatado foi muito interessante. 

O passeio pelas conceituações de narrador foi importantíssimo e o exercício de identificação dos tipos de narradores nos diversos textos foi riquíssimo, pena que o tempo foi pouco!

A seguir transcrevo as conclusões as quais meu grupo chegou a respeito do texto a nós confiado:

 O livro escolhido foi “As Intermitências da Morte” de José Saramago de 2005. Lemos as três primeiras páginas do livro (págs. 11 a 13) e podemos observar que havia elementos que apontavam para a existência de dois tipos de narradores: o narrador-personagem secundário ou intradiegético homodiegético e  o narrador onisciente intruso ou extradiegético. A coexistência entre narradores tão diferentes encheu o grupo de reserva sobre esta hipótese porém corajosamente estamos expondo este viés.

O narrador-personagem secundário se comprova por seu papel de enunciador,é mais importante como ator do enunciado. No texto sob análise, utiliza verbos na 1ª pessoa do plural como lembremos e dizia, verbos que caracterizam passados, o lá enuncivo. Esta entidade do discurso aproxima o leitor do texto fazendo com que este se torne mais próximo daquele, promovendo aquilo que chamamos de subjetividade.

O narrador onisciente intruso se mostra por meio do pendor preponderantemente irônico em sua narração propriamente dita e suas intervenções (considerações ou juízos de valor). Apontaremos a seguir elementos que constituem o aparelho formal da enunciação como o talvez que se caracteriza como um termo modalizante que pertencente ao plano enunciativo por sugerir atitudes particulares de que fala; os verbos no presente como estamos apontam para a enunciação, que é a manifestação do ato da fala ou da escrita, que só pode exprimir-se no presente do aqui, aqui enunciativo sendo o aqui é pronome demonstrativo; o dizia, que integra o tempo imperfeito, sugere dúvidas sobre a continuidade da ação, criando ambigüidade na ação do leitor e estes verbos em terceira pessoa indicam objetividade própria da enunciação.

O suporte teórico utilizado nesta pequena análise provém do capítulo Elementos Estruturais da Enunciação, parte do livro Teoria da Narrativa  de Salvatore D’Onofrio e também de conhecimentos prévios da teoria greimasiana de análise semiótica e da obra sob análise.

Mais uma vez o desafio foi instigante e seu cumprimento prazeroso. Até a próxima memória!

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