Blog dos alunos da turma III da Especialização em Semiótica Aplicada à Literatura e Áreas Afins da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Memória de Aula 04 por Wadlia Araújo Tavares


Por ter sido o ponto alto desta aula, começo esta memória com a seguinte frase de Archibald Mc Leash :
O poema não deveria significar, mas ser.

Começamos com Vladimir Propp e Morfologia do Conto Maravilhoso. Confesso que há muito quero ter acesso a este texto. Discuti-lo foi muito bom e aumentou a vontade de lê-lo. As proposições presentes neste escrito lançaram bases para vários estudos não somente literários, mas também lingüísticos. 

Seguimos nosso percurso entrando no Formalismo Russo que descobrimos ser eslavo e não somente russo. Tem como marco inicial esta corrente crítica, centrada na obra,  o Círculo Lingüístico de Moscou (1915). Os principais nomes são Viktor Chklovsky (autor do texto-marco do Formalismo Russo “A arte como procedimento” do qual falaremos posteriormente), Yury Tynyanov, Boris Eichenbaum, Roman JakobsonGrigory Vinokur. Os grandes alvos deste pensamento é entender (muito conhecido principalmente pelas Funções da Linguagem) e o fazer poético como algo que pode capturado para posterior estudo e por fim aplicado; encontrar aquilo que diferencia a linguagem objeto da linguagem poética com critérios puramente funcionais e observando também a camada sonora da linguagem.

Segundo Ivan Teixeira, em seu artigo publicado na revista CULT em agosto de 1998, Chklovsky é o desencadeador da abordagem lingüística do texto. Porém é interessante notar que o lingüístico não sobrepuja completamente a fruição poética pois a finalidade da arte é gerar a desautomatização. Outro princípio fundamental exposto é a lei da economia das energias (processo que objetiva o máximo de rendimento com o mínimo de atenção). Neste texto, temos a impressão errônea de que o Formalismo Russo seja embrião daquilo conhecido por Estética da Recepção. Eu fui por tal caminho mas a tempo fui conduzida à “verdade”!

Derivações importantes surgiram do Formalismo Russo como o Círculo Lingüístico de Praga, fundado por Jakobson, que originará o pensamento estruturalista; a Escola de Tartú (que teve participação naquilo que hoje chamados de Semiótica da Cultura) e o Grupo Tel Quel, tendo como um de seus membros Roland Barthes, “igualmente fascinados pela descoberta da lingüística de Saussure, pela semiótica russa e tcheca, pelo estruturalismo que seria um desenvolvimento daquelas propostas.” (CULT,Mar/2010)

Não havia lido o texto de Viktor Chklovsky no momento da aula, mas considerações importantes sobre este foram tecidas, que ao ler pude comprovar, como a busca de elementos característicos do texto literário, por exemplo, dispositivos que transformavam o texto em obra de arte e ainda, apontando a distinção de arte e não-arte.  Indo ao texto, fiquei impressionada com as idéias e encantada com a escritura. As citações e idéias dos teóricos como Potebnia (“A poesia assim como a prosa é antes de tudo, e, sobretudo, uma certa maneira de pensar e conhecer”), Spencer (“o mérito do estilo consiste em alojar um pensamento máximo num mínimo de palavras”), Bieli, (concebe o objeto  de duas formas, a saber, criado como prosaico  e percebido como poético; criado como poético e percebido como prosaico), Ovsianiko-Kulikovski (isola-se poesia lírica, a arquitetura e a música são uma forma singular de arte, arte sem imagens, a defini-las como artes líricas que se dirigem imediatamente às emoções) foram grandiosas e o texto como um todo foi o melhor que li nos últimos meses. “A arte como procedimento” é elucidativo pelo embasamento teórico e pelas exemplificações retirados de livros do grande expoente literário russo que é Liev Tolstói (“se toda a vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como se esta vida não tivesse sido.”).

Avançando um pouco mais nesta jornada, chegamos ao Estruturalismo que não pode ser concebido somente como mais uma corrente da crítica literária. Como bem escreveu Teixeira (AGO/1998), o estruturalismo representou a maior revolução metodológica nas ciências humanas nos últimos cinqüenta anos, sendo certo que hoje se encontra em relativo descrédito, embora algumas de suas postulações tenham incorporado definitivamente ao próprio modo de ser contemporâneo. Faço uma humilde ressalva ao trecho posto no que se refere ao descrédito sofrido pelo Estruturalismo. Creio que tal fase é coisa do passado. Particularmente falando, redescobri o Estruturalismo há dois anos através da Semiótica Discursiva e percebo que os estudos estruturalistas estão presentes mesmo quando não são desejados!

Voltando a nossa sala de aula, uma pergunta me tomou e não a expus quando deveria, porém aproveito este espaço, que também é de questionamento, e deixo a dúvida: o Estruturalismo seria derivação do Formalismo Russo?
Em minhas observações, fica inegável que as derivações comprovadas do Formalismo Russo, como o Circulo Lingüístico de Praga e o Grupo Tel Quel, gestaram o pensamento estruturalista. Mas não seria generalista demais dizer que o Estruturalismo se derivou do Formalismo?

Os nomes principais do Estruturalismo são Roman Jakobson (que esteve também no Formalismo Russo), Nicolai Trombetzkoy, Iuri Tynianov, Iara Mukarovsky e Felix Vodicka. Os estruturalistas esquecem o imanentismo textual pregado até então e procuram investigar a estrutura do discurso literário para alcançar uma teoria da estrutura e do funcionamento do discurso literário (Teixeira, ago/1998). O estruturalismo francês (década de 60) é o mais conhecido.

Saussure, a partir de sua concepção de língua como um aspecto da linguagem humana, forma a semiologia, uma nova ciência que promove a organização dos sinais e não somente o estudo das línguas. Através de suas dicotomias clássicas (sincronia/diacronia, langue/parole e outras) constitui o primado da arbitrariedade do signo que aponta para a cultura como a responsável pelas relações entre os vocábulos e o mundo. A literatura, aqui, é associada tão somente à Lingüística, diferentemente dos outros métodos críticos.
Os principais conceitos estruturalistas são a estrutura, na qual se observa, através da mudança ou falta de elementos o câmbio das relações; o sistema, conjunto regido pelas inter-relações entre os elementos e por fim, o modelo.

Seu método é dedutivo (do parcial para o total). Isso é observável teoricamente na Introdução à análise estrutural da narrativa de Roland Barthes e, na prática, por um antecedente do estruturalismo francês mas também um vanguardista do Estruturalismo, Morfologia do conto maravilhoso de Vladimir Propp (já mencionado anteriormente).

A seguir, elencamos os teóricos e suas áreas de atuações utilizando o Estruturalismo: Roman Jakobson (lingüística e poética); Émile Benveniste (lingüística); Claude Lévi-Strauss (antropologia); A.J. Greimas (semântica/semiótica); Jacques Lacan (psicanálise); Julia Kristeva (semanálise e conceito de intertextualidade); Barthes e Todorov (linguistica e análise da narrativa, estabelecendo a narratologia “formalista”).

Como toda teoria anterior ao Estruturalismo e posterior a ele, limitações podem ser observadas e a principal delas para os estruturalistas é o problema do valor artístico não solucionado anteriormente, nem no agora-então pelos estruturalistas. Tal contenção não diminui a contribuição grandiosa do Estruturalismo a todas as áreas do saber (opinião minha).

O exercício prático foi a identificação das funções, propostas por Propp, em textos diversos como Chapeuzinho Vermelho, Senhor dos Anéis etc. O tempo, como sempre, restringe nossos exercícios em conjunto e infelizmente muito ainda ficou por fazer. Isso seria ruim se não pudéssemos voltar a tais reflexões. Felizmente este retorno é possível e tal desejo é fomentado também por esta restrição temporal. Por isso volto àqueles para construir este texto e sedimentar os preciosos conhecimentos adquiridos nesta aula!

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