Blog dos alunos da turma III da Especialização em Semiótica Aplicada à Literatura e Áreas Afins da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Memória de Aula 05 por Wadlia Araújo Tavares


As únicas notas de aulas feitas foram a cópia daquilo que foi uma tentativa da professora de tornar mais palatável aquilo que foi discutido: Estética da Recepção. Sabe quando você conhece algo só de ouvir falar e quanto mais se aproxima, parece que menos se entende? Pois é, esta é minha situação com relação à Estética da Recepção.

H.R. Jauss não precisa de meu juízo de valor mas a maioria de seus argumentos são plausíveis, outros, particularmente, nem tanto e há outros ainda que não alcanço. Isso não me assusta. É como se este tipo de “dificuldade” confirmasse que estou no meu caminho certo, academicamente falando!

Essencialmente, simplificar isso é um crime mas confesso meu delito, o texto trata do leitor e da crítica e ainda apresenta uma crítica o método histórico-biográfico de investigação literária.

Em A história da literatura como provocação à teoria literária de H.R. Jauss, pelo menos nos trechos por nós lido, o autor lança 7 teses a respeito da presença fundamental do leitor para o pensamento da História da Literatura.

A primeira tese, na verdade a VI, trata do local da historicidade da literatura. Esta, deveria se dá e para ele é assim,  está na experiência do leitor. Muitos conceitos que permeiam o texto de Jauss pertencem a outras áreas de conhecimento (História, Política etc.) por isso se faz necessário um cuidado redobrado na leitura e conclusões formuladas a partir deste texto. Conceitos interessantes intrigaram-me como Fato Literário (produção), Fato Histórico (acontecimento localizado na linha temporal cronológica) e Acontecimento de Uma Obra (recepção, leitura). Outra curiosidade interessante foi revelada a nós acerca dos conceitos de produção (crítica marxista) e representação (crítica estruturalista).

A segunda tese, na verdade a VII, mostra o conceito de Horizonte de Expectativa. O leitor já o tem antes do contato com a leitura, mas esta leitura pode expandir este horizonte (boa leitura) ou não (obra sem valor). Esta tese faz crítica ao New Criticism, a  J. Mukarovsky e a Roman Jakobson[1] por seu ceticismo disseminado. Para Jauss, só a Estética da Recepção pode, de maneira perfeita, medir o efeito estético no leitor. O efeito da obra no seu público só existe a partir do horizonte de expectativa daquele.

A terceira tese, na verdade VII, traz outro conceito caro à Estética da Recepção: dimensão estética, ou seja, entre o Horizonte de Expectativa e a nova obra há a Dimensão Estética que determina o sucesso ou o fracasso da obra para o leitor. Veladamente, observamos a construção do ideário em favor da relativização do cânone literário[2] que Jauss constrói em seu texto.

A quarta tese, na verdade a IX, expõe que para analisar uma obra do passado é necessário entender o Horizonte de Expectativa dos leitores do seu tempo. E como perceber estes Horizontes de leitores contemporâneos de um livro escrito no inicio do século XIX? Através de registros dos críticos, testemunhos e diários de pessoas daquele então. Conceitos interessantes emergem desta tese como objetivismo histórico:

O objetivismo histórico, na medida em que apela para o seu método crítico, oculta o entrelaçamento efeitual-histórico em que se encontra a própria consciência histórica. É verdade que, graças ao seu método crítico, ele desmorona a arbitrariedade e o capricho de certos atualizadores congraçamentos com o passado, mas com isso ele se livra da má consciência de negar aquelas pressuposições que não são arbitrárias nem aleatórias, mas sustentadoras, as quais guiam seu próprio compreender; dessa forma negligencia a verdade que seria acessível, apesar de toda finitude de nossa compreensão.[3]

 E história do efeito:
               
Um pensamento verdadeiramente histórico tem que ser capaz de pensar, ao mesmo tempo, sua própria historicidade. [...] O verdadeiro objeto histórico não é um objeto, mas a unidade de um e do outro, uma relação na qual a realidade da história é idêntica a realidade da compreensão histórica. Uma hermenêutica adequada deve mostrar na compreensão mesma a realidade da história. Ao conteúdo dessa exigência eu chamaria história do efeito.[4]

 A quinta tese, na verdade a X, versa que não é só a inovação estética que garante o caráter artístico, mas a forma como esse texto é recebido através do tempo. Há uma “sequência” a ser obedecida: enquadramento (insira a obra isolada em sua “série literária”) e depois a repercussão (recepção das obras à história da literatura, como acontecimento). Uma dúvida surge: A nova obra, mencionada no resumo da tese, é resultante da recepção ativa de uma obra já existente ou de uma obra inaugural?

Outro conceito interessante é a dispensável, para o concebimento da autogeração dialética de novas formas, teleologia:

1.      Estudo da finalidade. 2. Doutrina que considera o mundo como um sistema de relações entre meios e fins. 3. Estudo dos fins humanos[5]

A sexta tese, na verdade a XI, aponta que cada tempo oferece uma multiplicidade de obras resultando em uma multiplicidade de relações. Uma já conhecida dicotomia (porém reinterpretada) é apresentada: contemplação diacrônica – a historicidade na metodologia de apresentação da literatura como somente um apanhado da vida e obra de um determinado autor – e corte sincrônico – atravessando um momento de desenvolvimento, classificar a multiplicidade heterogênea das obras contemporâneas segundo estruturas equivalentes, opostas e hierárquicas e, assim, revelar um amplo sistema de relações na literatura de um determinado momento histórico. Outro conceito válido é o da decomposição da literatura em uma heterogênea multiplicidade do não-simultâneo que, na prática, se possível fosse, corresponderia ao rompimento de todas as “amarras” classificatórias, como por exemplo, a delimitação, em recipientes, de correntes literárias, as quais começam e terminam em um dado momento situado.

A sétima tese, na verdade XII, indica que a história da literatura só se cumpre quando é vista também como história particular e modifica a vida do leitor. Para sustentar tal tese, autor se vale da exemplificação de um percurso no qual se nota a função socialmente constituída da literatura. Com este percurso que se desenha demonstra até que a literatura tem a capacidade de ensinar ao seu leitor a evitar frustração. Para mim foi uma surpresa semelhante função literária ser apontada em um texto teórico. Nesta tese, a crítica é endereçada ao estruturalismo literário que reduz, ignora e não pergunta. Particularmente, acredito que nada que surgiu depois do estruturalismo pode contestá-lo, tão ferrenhamente, pois tal coisa só se configurou por conta da revolução proporcionada por este mesmo estruturalismo.

Conhecer (e não entender tão bem) o que seja Estética da Recepção foi um passeio útil. Sigamos em frente em nossa trilha e cheguemos a próxima parada! Até mais!


[1] Um ponto com o qual não concordo. Nada em ciência é absoluto, como querer cobrar isso de Jakobson e mais grave ainda, como imputar a tal corrente (Estética da Recepção) este caráter total.
[2] Outro ponto extremamente controverso e questionável.
[3] Em <http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=2769> , acesso em 22/10/2010, às 23:01
[4] ARAUJO, Valdei Lopes de. Sobre o lugar da história da historiografia como disciplina autônoma. Em < http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/42.pdf>, acesso em 22/10/2010, às 23:11
[5] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 (2ª edição, revista e atualizada. 33ª impressão)

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