Blog dos alunos da turma III da Especialização em Semiótica Aplicada à Literatura e Áreas Afins da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Memória de Aula 01 por Ana Germana Pontes Rodrigues

AULA 1 – 18/09/10 – (FALTEI)
Aluna: Ana Germana Pontes Rodrigues.

1. LITERATURA COMO SISTEMA – Antonio Candido
           Este capítulo norteia o leitor do que virá no restante do livro. Inicialmente, o autor diz que abordará tanto a tendência universalista quanto as particularistas da literatura brasileira.
           Para conceituar a palavra que dá título ao seu livro, “Formação da Literatura Brasileira, o autor distingue “manifestações literárias” de “literatura” propriamente dita. Esta, para ele, é “um sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem conhecer as notas dominantes duma fase. Estes denominadores são [...] certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização.” (p. 23)
            No entanto, o que mais me chamou atenção ao conceito de literatura foi a seguinte passagem: “um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens, e de interpretação das diferentes esferas da realidade.” (p. 23) – por tratar a literatura como uma comunicação entre os homens e como uma forma de o indivíduo expressar suas ideias, seus sentimentos mais profundos, que acaba se transformando num elo entre diversas pessoas.
            O autor também fala de outro elemento necessário à literatura como fenômeno de civilização: a tradição – “conjunto de elementos transmitidos, formando padrões que se impõem ao pensamento ou ao comportamento” (p. 24), que, de fato, acontece em várias sociedades e acaba justificando a abordagem histórica do presente livro.
            Já em “manifestações literárias” essa organização desses elementos não é tão nítida, pois, em geral, elas acontecem em fases iniciais, o que, no entanto, não é empecilho para que surjam obras de valor.
            Então, para distinguir um conceito do outro, o autor considera necessário verificar quando e como se definiu uma continuidade ininterrupta de obras e autores, que estivessem cientes de integrarem um processo de formação literária. Na abordagem deste livro, isso aconteceu, no Brasil, a partir dos árcades mineiros, as últimas academias e certos intelectuais ilustrados.
            Este capítulo de apresentação acaba causando vontade de continuar a ler a obra completa.

2. CONCEITOS DE LEITOR / INTERPRETAÇÃO / CRÍTICA

            O texto de Márcio Selligman, por sua vez, trata de outros conceitos: leitor, interpretação e crítica.

            Ele diferencia 6 níveis de leitura da noção de leitor e, no final, dá um conceito de ideal de leitor da literatura, que foi o que mais me chamou atenção: “[...] é sem dúvida o leitor-crítico, o leitor que tanto se deixa transformar pelo texto, como também reage a ele, consumando-o e transformando-o. É esse leitor ativo que está na base das inovações da cultura.” (p. 1)
            Com base nisso, ele diz que “toda leitura é releitura e apropriação”. E que a interpretação tanto não é uma verdade pontual do discurso analisado como também nem toda e qualquer interpretação é válida. Ela é, antes de tudo, um processo infinito e multideterminado por fatores estéticos, políticos e culturais, ao mesmo tempo que aquele que interpreta deve assumir um compromisso duplo: com o “texto/discurso” e com o seu presente, desfilando seus argumentos diante do público para sustentar os pontos de vista definidos. Além disso, “o embate em torno de textos é também um embate sobre a História e as nossas vidas. A interpretação transita constantemente entre texto e contexto: o texto deve ser lido como uma resposta ao contexto da criação da obra” (p. 3). E ambos não podem ser estabelecidos de modo completo, pois “um germina e determina o outro.”
            Para compor uma crítica, Selligman ressalta que Teoria Literária e História da Literatura são fundamentais como base para o conhecimento da intertextualidade literária, que embasa o texto, e da tradição da leitura crítica que originou inúmeros conceitos. O crítico pode tanto dissolver o texto, cortá-lo e analisar as suas partes, quanto reconstruir o texto, associando-o a tradições, autores, fatos históricos. A filologia também é uma disciplina fundamental para a crítica, pois esta ciência dedica-se “ao estabelecimento das fontes do texto, das suas várias versões e transformações ao longo do tempo” (p. 3).
            Portanto, o papel do crítico: “‘agente de comunicação’ da obra literária” (p. 4). Ele deve estar atento a todos os níveis que compõem uma obra literária: fonético, visual, sintático, conceitual, ideológico, estético, poetológico, etc., procurando traduzir, atualizar essa obra, recriando-a ao confrontá-la com outros textos, outros tempos, espaços e imagens.

            Enfim, o primeiro texto instiga a leitura do restante do livro sobre a formação da literatura brasileira, e o segundo corrobora a necessidade desse conhecimento como um dos elementos fundamentais para a composição de uma crítica literária. Acredito que a leitura do livro de Antonio Candido poderá ser bastante útil para a produção (e escolha!) do meu tema de pesquisa, cuja composição deverá ser bastante crítica.

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