Blog dos alunos da turma III da Especialização em Semiótica Aplicada à Literatura e Áreas Afins da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Memória de Aula 03 por Wadlia Araújo Tavares

Minhas notas de aula mais uma vez guiarão a memória desta que vos escreve. 

Tivemos uma breve revisão a respeito das aulas 01 e 02. Alguns conceitos sobre Crítica que eu tinha deixado passar, pude percebê-los melhor. A Crítica Biográfica foca sua análise na  vida do autor. A Crítica Impressionista baseia-se nas impressões do leitor para ser produzida. As duas modalidades têm algo em comum: não têm base teórica. Interessante observar como metodologias sobrevivem por tempos sem embasamentos teóricos comprovados, porém estas mesmas metodologias são exercícios de análise que nos levaram a construir as bases que temos na atualidade.

Nesta aula mergulhamos no New Criticism ou Nova Crítica. Surge nos anos 20 no sul dos Estados Unidos. Sua principal contribuição foi a autonomia do texto literário, uma leitura imanente, segundo Teixeira, na qual todo poema deve ser abordado como se fosse um pequeno drama, em que se destacam um falante, uma estória e sua transmissão a um suposto ouvinte .

Tivemos acesso aos nomes dos principais teóricos como T. S. Elliot em The sacred wood (só conheço este e  como autor de ficção), William Empson em Seven types of ambiguity, I.A. Richards em The Principles of criticism, John Crowe Ramson em New Criticism, Cleanth Brooks em The well whrought urn: Studies in the structure of poetry , Samuel Taylor Coleridge,  W.K. Wimsatt e Monroe C. Beardsley parceiros em Intentional fallacy e Affective fallacy (não conheço nenhum destes!). No Brasil, a Nova Crítica chega através do poeta Péricles Eugênio da Silva Ramos em uma introdução, de uma antologia de poesia brasileira, na qual explica a coerente apropriação do New Criticism.

Vimos ainda os principais conceitos do New Criticism como:
Close Reading (exame minucioso do poema como organismo dinâmico).
Falácia da Intenção (queda da idéia de que o entendimento do texto passa pela descoberta da intenção do autor). Esta característica mostra de forma patente a principal contribuição desta corrente crítica mencionada anteriormente (autonomia do texto). O autor ou mesmo sua biografia não são necessários para alcançar a significação textual. Esta falácia aponta para o método da Crítica Biográfica.
Falácia da Emoção (queda da idéia de que a análise de um poema não pode ser confundida pela emoção provocada por ele). A imparcialidade em qualquer análise, de qualquer área de conhecimento é impossível. Mesmo que de forma mínima, porém sempre haverá vestígios de uma subjetividade. Porém tal impossibilidade também não autoriza a emotividade como guia em um trabalho de análise. A construção de idéias próprias bem embasadas é o melhor caminho. Tal recurso é bem característico da Crítica Impressionista. Conforme Teixeira, este tipo de análise, para Nova Crítica, caberia à Psicologia, já que esta está incumbida de um estudo formal do texto. Estudando estes conceitos ocorreu-me, para exemplificação, o poema Autopsicografia de Fernando Pessoa. Tal exemplo também foi tomado por Ivan Teixeira em seu artigo sobre o New Criticism publicado na revista Cult em setembro de 1998.
Correlato Objetivo (produto lingüístico oriundo do poeta que causa efeito semelhante no leitor). Este conceito não ficou claro pra mim em sala. Lendo o texto de Ivan Teixeira, sabe-se que tal noção se faz presente no ensaio Hamlet and his problems de T.S. Elliot. Teixeira também aponta este conceito como fundamental para a Nova Crítica. No decorrer da leitura pude finalmente entender que a idéia é manipular o leitor para que este seja despertado em uma emoção específica ao estar em contato com o texto.
Falácia da Comunicação (a poesia não deve servir como veículo de doutrinas e idéias particulares). Delimitar a matéria poética é uma falta gravíssima. A poesia pode e deve tratar de qualquer assunto desde que com qualidade técnica e emotividade adequada.
Textura do poema (responsável pelo significado estético do enunciado). É um recurso artístico que corrobora para a instalação do efeito buscado pelo anteriormente mencionado correlato objetivo.
Heresia da paráfrase (errônea idéia de que a decodificação do significado literal basta para conferir consistência à leitura).

Em segundo momento da aula tentamos entender como se dá a construção de personagens. Descobrimos que existem várias técnicas para tal construção e também diversas categorizações de personagens. Uma destas foi mencionada em aula. Seria a categorização de FORSTER (personagem plano e personagem redondo). 

O texto orientador de tal discussão em sala foi Pessoas de 1927. O texto tem seu mérito, porém traz em si, algumas “bobagens” como a afirmação de que os personagens ‘precisam ser criados num estado de excitação delirante’ ou ainda ‘narrador e criador são um só ser’. 

O exercício prático proposto nesta aula foi a elaboração de um personagem com a intervenção de toda a sala. Não tivemos êxito em tamanho desafio. Percebemos o quão árduo é o trabalho de elaboração de um personagem. Espero eu ter sucesso em uma tentativa como esta no futuro!

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